Creatina: quando, como e para quem indicar
Popular entre praticantes de musculação, a suplementação de creatina tem atraído cada vez mais interesse por seu potencial uso fora do contexto da atividade física, como tratamento de distúrbios musculares e neurológicos, além do uso geriátrico. Mas que evidências respaldam esse uso? Quando a creatina pode ser receitada e em que doses? Há contraindicações? Diante de tantas questões, conversamos com diversos especialistas para entender, na prática, como a suplementação pode ajudar os pacientes.
Assim como ocorre com a creatina endógena, a creatina suplementada é convertida em fosfocreatina e armazenada no tecido muscular esquelético, onde exerce papel-chave na rápida reconstituição de ATP. “A suplementação ajuda na recuperação muscular de forma mais rápida, pois há uma reserva de energia disponível”, explica a Dra. Beatriz Leite, nutricionista especializada em nutrição clínica, doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante da Comissão Multiprofissional da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
O organismo produz, em média, de 1 a 2 g de creatina todos os dias, e o composto também está presente em alimentos de origem animal. Um quilo de carne vermelha contém, em média, 5 g de creatina; assim, ingerindo 200 g de carne por dia, o consumo é de cerca de 1 g de creatina. A suplementação recomendada, de 3 a 5 g por dia, busca complementar a produção endógena e o consumo pela alimentação, proporcionando o acúmulo de creatina intramuscular.
Segurança
Um estudo recente, que avaliou os efeitos colaterais relatados em 685 ensaios clínicos, indica que a suplementação de creatina não está associada a efeitos adversos clinicamente significativos e é geralmente bem tolerada, especialmente nas doses recomendadas (ou seja, de 3 a 5 g/dia ou 0,1 g/kg de massa corporal/dia). “A creatina monoidratada é semelhante à endógena. O organismo a processa da mesma forma e, por isso, não vejo a possibilidade de efeito colateral. É um suplemento muito seguro”, garante a Dra. Andréa Fioretti, coordenadora do Departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Há reservas em relação ao uso por conta da hipótese de que a creatina poderia elevar os níveis séricos de creatinina e sobrecarregar as funções hepática e renal. Porém, uma metanálise mostra que a suplementação de creatina não altera significativamente os níveis séricos de creatinina. “A creatina é excretada nos rins como creatinina. Então, quando a pessoa usa creatina, há um falso aumento dos níveis séricos de creatinina, é como se eles tivessem aumentado, mas, na verdade, esse consumo não provoca nenhum dano renal”, explica a Dra. Andréa.
Matéria: MedScape